O escritor Jeferson Tenório foi o convidado do “Trilha de
Letras” exibido na TV Brasil na última terça-feira (19/03). Durante a
entrevista conduzida por Eliana Alves Cruz, o autor falou da polêmica
envolvendo O Avesso da Pele (2020), que foi censurado em escolas de três
estados brasileiros.
“Foi uma surpresa pela criatividade das interpretações e,
também, pela repercussão”, contou o autor. Para ele, toda a polêmica em torno
da obra mostra o quanto o romance, vencedor do Prêmio Jabuti, incomoda o
segmento ultra conservador da sociedade. “Acho que talvez o livro tenha sido a
bola da vez. É uma obra que carrega algumas questões sensíveis como, por
exemplo, a violência policial”, completou.
Após a obra ser aprovada em 2022 para integrar o Programa
Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) - política do Ministério da
Educação (MEC) que avalia e disponibiliza publicações às escolas públicas -, as
secretarias de educação do Mato Grosso do Sul, de Goiás e do Paraná afirmam que
o livro O Avesso da Pele apresenta “expressões impróprias” para menores de 18
anos. Em função da linguagem inadequada e da descrição de atividade sexual
citadas pelos órgãos, o livro distribuído aos alunos do Ensino Médio precisaria
ser reavaliado ou retirado das bibliotecas das instituições.
Ao narrar a história do personagem Pedro, que teve o pai
assassinado em uma abordagem policial, Jeferson Tenório trata de temas como
racismo, educação, amor aos livros e relacionamentos familiares - e revela um
país marcado pelo preconceito e por um sistema educacional falido.
Professor da rede pública de ensino, o escritor falou ainda
sobre sua experiência em apresentar livros diversos aos alunos; as conexões
políticas entre ascensão da extrema direita no mundo e a censura; e sobre ser
um escritor negro.
A respeito do caminho para a formação intelectual e literária
dos brasileiros, Tenório acredita que é preciso que a sociedade encare e
resolva eventos históricos que chamou de “trágicos”: a escravidão e a ditadura.
“Apenas políticas públicas podem impedir retrocessos no que já avançamos em
relação ao racismo e à censura”, destacou.
Carioca radicado em Porto Alegre, Jeferson Tenório estreou na
literatura com o romance O beijo na parede (2013), eleito o livro do ano pela
Associação Gaúcha de Escritores. É autor também de Estela sem Deus (2018), que
teve textos adaptados para o teatro e contos traduzidos para o inglês e o
espanhol.