O ‘Globo Repórter’ desta sexta-feira (03/05) acompanha o
trabalho de famílias e pesquisadores que, juntos, atuam para produzir e
divulgar a eficácia dos remédios à base de cannabis e mostra histórias de
pessoas que tiveram melhoras em sua saúde com o uso da cannabis medicinal.
No Brasil, a cannabis só pode ser cultivada com autorização
judicial. O programa visita a APEPI, Associação de Apoio a Pacientes e
Pesquisas da Cannabis Medicinal, onde começou a luta pela regulamentação do uso
terapêutico da planta. Foi fundada pela ativista e advogada com especialização
em responsabilidade social e terceiro setor, Margarete Brito, e seu marido, há
dez anos, quando um médico recomendou o uso do óleo rico em canabidiol para
Sofia, filha do casal, que tinha cerca de 10 convulsões por dia. Com o uso do
óleo, atualmente a menina fica ao menos dois dias sem ter convulsões. A
reportagem mostra como tem sido essa luta ao longo dos anos e conta como ela
tem beneficiado pessoas Brasil a fora.
Os medicamentos à base de cannabis ainda são novos e não
curam, mas pesquisas indicam e especialistas afirmam que eles são capazes de
tratar pacientes que têm resistência aos remédios convencionais, como é o caso
do Nicolas, que tinha convulsões desde os três meses de vida. Ele foi
diagnosticado com microcefalia, paralisia cerebral e epilepsia.
A partir de uma reportagem do ‘Fantástico’, em 2014, Gabriel
descobriu o tratamento por meio da cannabis e foi em busca de ajuda. Três dias
depois de começar o uso do óleo de cannabis, ele percebeu a diferença no filho.
Hoje, aos 12 anos, Nicolas conquistou outra qualidade de vida. A família se
mudou de São Paulo para João Pessoa, para ficar mais perto da Associação
Brasileira de Apoio à Cannabis Esperança, a ABRACE, que fornece o medicamento.
Duas substâncias estão mais presentes nesses remédios: o
canabidiol, CBD, que funciona como um calmante; e o tetrahidrocanabinol, o THC,
que também pode ser calmante, mas dependendo da dose, tem efeito euforizante. A
Organização Mundial da Saúde declarou que a CBD é segura e não vicia. Quanto ao
THC, a OMS recomenda o uso restrito da substância, em terapias medicinais, com
acompanhamento médico.
O Uruguai foi o primeiro país da América do Sul a permitir o
cultivo da planta, uso medicinal, adulto ou recreativo; a Argentina aprovou o
cultivo e liberação de remédios à base de cannabis; e 38 dos 50 estados
americanos liberaram o uso medicinal da planta. No Brasil, a venda é autorizada
somente sob prescrição médica e o produto é, quase sempre, importado.
A Fiocruz defende que medicamentos à base de cannabis sejam
largamente produzidos para chegar a quem precisa. De acordo com a Fundação, o
novo medicamento auxilia no tratamento e na redução das dores crônicas,
convulsões, espasmos, náuseas, distúrbios do sono, perda de apetite e sintomas
do Parkinson. Recentemente ela divulgou uma nota técnica em que afirma ser
fundamental o investimento científico nessa área, além da regulamentação que
viabilize a produção, a prescrição e o acesso ao medicamento no Sistema Único
de Saúde.
A repórter Lilia Teles entrevista o pesquisador Francisco
Netto, coordenador da nota técnica, que conta que a ideia é dar segurança para
os atores que estão defendendo a necessidade de avançar na produção nacional.
Em Volta Redonda, no Sul fluminense, o Estádio Municipal
Sylvio Raulino de Oliveira, conta com um espaço, abaixo das arquibancadas, que
foi aproveitado para consultas da rede pública. Um deles oferece atendimento
médico e óleo de cannabis, gratuitamente, caso o paciente precise de um
medicamento diferenciado. Há um ano, os consultórios atendem 319 pacientes com
epilepsia, espectro autista e Alzheimer, entre outras doenças. Em São Paulo, o
Centro de Pesquisa e Ensino da Unicamp tem feito o controle de qualidade de
vários óleos produzidos por associações de diversas partes do Brasil. Em uma
das universidades mais respeitadas da América Latina, a cannabis medicinal é,
inclusive, tema de aulas de pós-graduação.
O Globo Repórter vai ao ar na TV Globo, logo após a novela
‘Renascer’.