Dentro da Floresta Amazônica, há um mundo cheio de vidas e
histórias, algumas delas ainda desconhecidas. Entre as árvores ou escondidos em
suas rochas, estão desenhos que contam e preservam as histórias dos povos
americanos, contadas no inédito documentário "Arqueologias Amazônicas:
Memórias de Chiribiquete", que estreia nesta sexta-feira (18/07), às 22
horas, no Curta!.
Produzido pela ARTE France e com direção de Juan José Lozano
e Aurine Crémieu, o documentário apresenta o trabalho científico que busca, na
Amazônia, desvendar o o passado e revolucionar os estudos sobre a espécie
humana. A produção traz imagens e entrevistas com pesquisadores de várias
nacionalidades, entre eles a franco-brasileira Niède Guidon, que criou a Serra
da Capivara, no Piauí, e faleceu em junho deste ano.
Nas montanhas do Parque Nacional de Chiribiquete, no sul da
Colômbia, os pesquisadores estudam um patrimônio arqueológico. Chamadas de
tepuis pelos ameríndios, essas rochas no meio da floresta preservam milhares
de pictogramas, que guardam as crenças, costumes e rituais de povos antigos.
O documentário acompanha os pesquisadores em suas incursões
em espaços de difícil acesso. As pinturas, que remontam aos primórdios do
povoamento do continente, eram feitas nesses paredões rochosos para que a chuva
e o sol não as danificassem. Por serem tão bem escondidas e protegidas, só foram
descobertas no século XX.
"Estima-se que conhecemos muito pouco o Chiribiquete.
Vários fatores impediram a vinda de pesquisadores por um longo tempo, como o
financeiro, já que até hoje é muito caro fazer pesquisas na Amazônia. E também
conflitos no país, que afastaram pesquisadores de realizarem pesquisas”,
explica Fernando Montejo, arqueólogo que supervisiona a expedição.
A emoção dos expedicionários diante dos paredões com desenhos
é representada na figura do antropólogo Carlos Castaño. Líder da expedição, ele
dedica sua vida e sua carreira a estudar o sítio, tentando decifrar os desenhos
de tartarugas, macacos em cipós, bagres, cervos, de objetos como bolsas, e
figuras humanas como caçadores, guerreiros e xamãs.
“Chiribiquete é um local excepcional porque pode abrir um
caminho da história da evolução humana desde os tempos mais longínquos. Cada
expedição fornece novas informações, que evocam uma série de questões e
contribuem para o conhecimento”, declara.
O filme mostra que datar esses pictogramas é tão importante
quanto decifrá-los. Para isso, Carlos viajou ao Parque Nacional da Serra da
Capivara, outro ponto fundamental da história da ocupação humana nas Américas,
para conversar com Niède Guidon, pesquisadora franco-brasileira referência na
arqueologia rupestre, falecida neste ano, para estudar similaridades entre as
pinturas de cada local.
“Tanto no Chiribiquete quanto na Serra da Capivara temos
elementos muito característicos na figura humana. Na postura, na intenção do
corpo: os braços estão sempre pra cima em uma atitude beligerante ou de
respeito, e em muitos casos empunhando armas”, destaca Castaño.
O documentário registra também a busca por petróglifos, ao
sul de Chiribiquete. “Esse desprezo pela arte rupestre, que é fundamentalmente
uma arte indígena, é concomitante com essa atitude racista, classista, que
despreza suas origens”, afirma o etnógrafo Fernando Urbina Rangel.