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Divulgação - TV Brasil
 
MANCHETES

» 18/11/2025 - 20:53
Clayton Nascimento aborda racismo no Trilha de Letras da TV Brasil

Na véspera do Dia da Consciência Negra, a TV Brasil exibe a entrevista do ator, dramaturgo e diretor Clayton Nascimento para a apresentadora Eliana Alves Cruz na edição especial do Trilha de Letras desta quarta-feira (19/11), às 23h. O programa temático se insere na campanha "Vozes Negras: Em Alto e Bom Tom" que reforça o compromisso do canal público com a diversidade e a representatividade.

Mente criadora responsável pelo espetáculo teatral "Macacos", que ganhou livro homônimo, o convidado revela os bastidores da concepção do monólogo.

O artista recorda o episódio de preconceito que o inspirou a criar a montagem da dramaturgia. Ele conta como se sentiu ao acompanhar o caso do goleiro Aranha, do Grêmio, ofendido pela torcida tricolor do clube gaúcho em 2014. A situação real foi transformada em uma peça para denunciar o racismo estrutural existente na sociedade sob a perspectiva do contexto artístico.

"Eu morava na Universidade de São Paulo, a USP, e um dia cheguei nas moradias e liguei a TV. Vi um estádio de futebol inteiro xingando um goleiro. Isso foi aqui no Brasil. Me impactou. Sabia que acontecia, mas eu não tinha visto em massa", lembra ao mencionar suas reações ao fato na conversa gravada na BiblioMaison, a biblioteca do Consulado da França no Rio de Janeiro.

O autor relata sua surpresa com a agressividade da ofensa que o fez questionar a origem dessa violência. "Eu pensei em um lugar que é televisionado, que a imprensa está ali, com muita gente junta, as pessoas conseguem colocar naquela situação de xingar o outro, mesmo com as câmeras viradas para elas: isso é um crime. Aí nasce o primeiro clique: de onde nasce esse xingamento? Forças históricas estão permitindo que aquelas pessoas entrem ali e xinguem. Eu tenho que estudar de onde vem. Eu passo sete anos estudando isso dentro da Universidade de São Paulo na biblioteca e nas aulas", decide.

A reflexão sobre o episódio de racismo passa a basear os estudos do pesquisador que mergulha no assunto em suas pesquisas. Clayton Nascimento conta para a jornalista Eliana Alves Cruz sua experiência nesse processo.

"Eu pego emprestado um conhecimento da Lélia González. É importante você pegar uns termos muito doloridos para você ter a chance de ressignificá-los. Porque o fato é: o xingamento já existe. Vou pegar ele aqui emprestado para contar quais são as origens dele", explica.

Sobre o título "Macacos", o convidado é enfático. "Às vezes as pessoas me dizem: poxa, mas que título duro. E aí eu penso Duro é esse xingamento ser histórico. Duro é esse xingamento existir nas ruas. Eu sou um artista em estado de criação e na arte a gente tem a liberdade de pegar palavras emprestadas e ressignificá-las", defende.

Clayton Nascimento foi vencedor do Prêmio Shell e conquistou o APCA como Melhor Ator pelo espetáculo. "Desde a estreia da peça muita mãe periférica me escreve dizendo que está começando a dormir em paz. O assunto está em voga sobre a maternidade negra. As mães que muitas vezes acabam abandonadas pelo estado", pontua.

Os desafios para colocar em prática as ideias de seu processo criativo para a peça "Macacos" são lembrados pelo dramaturgo. "É um monólogo por consequência, porque eu passei anos tentando montar uma equipe que quisesse trabalhar comigo. As pessoas diziam que o tema era muito árduo e difícil. Aí que eu escrevo, dirijo, interpreto e acaba virando um monólogo", afirma.

O convidado aborda sua vivência na sala de aula. No Trilha de Letras, Clayton Nascimento comenta o desenvolvimento de uma produção acadêmica voltada para os conhecimentos da periferia em detrimento das grandes teorias de comunicação europeias.

"É diferente e desafiador você estar dentro da academia", revela o dramaturgo sobre como se sente na universidade e ao refletir sobre os desafios da educação no país quando discute as oportunidades e a presença de pretos brasileiros periféricos nas universidades. "Informações são ferramentas de luta, de defesa e de estruturação social", avalia.

Clayton Nascimento elenca outros problemas inclusive conceituais que se encara neste meio. "Muitas vezes os professores e a diretoria acadêmica não entendem a sua pesquisa. Acham que você querer falar sobre conhecimentos da periferia não é tão potente quanto as grandes teorias da comunicação europeia. Então tudo é trabalho de luta, mas eu prefiro estar dentro da academia em estado de luta do que fora reclamando", sintetiza.

O entrevistado da atração literária do canal público aprofunda o raciocínio sobre a temática. "A educação brasileira, e eu falo isso na peça, ela tem o desenho de um funil. Porque vai mostrando como é difícil sair do ensino infantil, entrar no básico, no médio, na graduação, na pós-graduação. As oportunidades vão afunilando, sufocando a possibilidade de você chegar num doutorado, por exemplo", compara.

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