Em uma entrevista ao No Lucro, que irá ao ar neste sábado
(06/12), às 23h30, pela CNN Brasil, Jim Farley, CEO global da Ford e um dos
nomes mais influentes da indústria automotiva mundial, analisa o atual momento
como o mais transformador da história do setor. O executivo destaca o avanço
dos veículos definidos por software, a disputa tecnológica entre montadoras e
os caminhos da eletrificação que devem moldar o futuro da mobilidade.
Farley afirma que a indústria vive uma ruptura inédita. ‘Temos
veículos definidos por software, pela primeira vez. Nossos arquitetos elétricos
podem criar um software que transforma um veículo num dispositivo digital
comum. Ele tira fotos, mas também existe um risco social e geográfico de uma
máquina inteligente que trafega por aí. Então, a política dos carros está
prestes a mudar completamente, porque ela é definida por software’, diz.
O executivo também afirma que a transição ambiental exige
uma visão mais ampla do que o mercado imaginava no início da eletrificação. ‘Pensávamos
que seria só de híbridos ou totalmente elétricos, mas agora vemos tantas
soluções individuais e parciais. E, claro, é um produto emocional. Gosto de
dizer que não vendemos xampu, mas um produto de forte apelo emocional’,
acredita.
Na conversa com o apresentador Phelipe Siani, Farley comenta
a pressão competitiva das montadoras chinesas, em especial a BYD, e como isso
influenciou decisões estratégicas da Ford. ‘A BYD trabalha há 20 anos em carros
100% elétricos. Eles são inteligentes, focados e atuam globalmente. E eles
querem nosso mercado. A única maneira de enfrentá-los é fazer do nosso jeito.
Para competirmos no mercado dos EUA, criamos um grupo de trabalho na Califórnia
para formar e testar as pessoas’, revela.
O CEO reforça que a reinvenção da Ford passa pela capacidade
de direcionar recursos de forma estratégica. ‘Meu trabalho é alocar capital,
talento e capital para fazer as escolhas certas, para reinventar a empresa’,
conta. Ele lembra que a força da marca está em seu legado e em sua
especialização. ‘Estamos no mercado há 125 anos e somos a única montadora que
nunca faliu. Nós fazemos caminhões, veículos comerciais e produtos de apelo
emocional. Podemos envolver software e serviços nisso, mas esse é o básico do
nosso negócio, desabafa.
Crítico à complacência, Farley diz que o desconforto é parte
essencial da evolução. ‘Aprendi que, sempre que você se sentir confortável, é
melhor dar uma olhada para trás’, frisa. Ele também fala sobre a dualidade da
percepção pública sobre a marca. ‘A Ford é estranha porque as pessoas pensam em
veículos baratos como o Modelo T ou um Ka, mas também não temos problemas em
vender um supercarro’, conclui.