A São Silvestre, uma das provas mais icônicas do Brasil,
chega à centésima edição neste ano. Criada pelo empresário e jornalista Cásper
Líbero, a prova atravessou um século de história e se consolidou como um dos
eventos esportivos mais prestigiados do Brasil e da América Latina. Para
marcar o centenário, o programa Caminhos da Reportagem apresenta
episódio especial 100 vezes São Silvestre, que vai ao ar excepcionalmente
às 22h30 desta segunda-feira (29/12), na TV Brasil.

O jornalístico traz grandes nomes que contam a história do
evento e celebram sua importância para a cultura esportiva do país.
Inspirada em corridas de rua que Cásper Líbero conheceu em
Paris, a corrida teve na sua primeira edição 48 corredores. O jornalista e
diretor-executivo da São Silvestre, Erick Castelhero, conta como a corrida já
trazia, desde o início, uma de suas características mais famosas. “A ideia era
sempre linkar ali a última noite do ano com o Réveillon e já chamando para um
novo ano. Talvez o Cásper não imaginasse que [a prova] ia chegar ao que ela é
hoje”, afirma.
Nas primeiras edições, apenas atletas brasileiros disputavam
a prova. O primeiro vencedor foi Alfredo Gomes. Neto de escravizados, ele é
também o primeiro atleta brasileiro negro a participar dos Jogos Olímpicos. Em
1945, corredores estrangeiros começaram a participar da competição.
A partir dessa mudança, o Brasil ficou décadas sem vencer a
prova. O jejum foi encerrado em 1980, com a histórica vitória de José João
da Silva. Atleta do São Paulo Futebol Clube, ele comenta o impacto daquele
título, assumindo a liderança nos últimos metros. “Ali eu não tinha ideia,
para te falar a verdade, do tamanho da vitória. Parou o país, foi uma Copa do
Mundo. Essa vitória foi um marco grande”, observa.
Cinco anos depois, o atleta venceria novamente a prova,
tornando-se um dos poucos brasileiros a alcançarem tal feito.
O crescimento da São Silvestre e do seu nível competitivo
atraiu atletas de várias partes do mundo. A mexicana María del Carmen Díaz,
tricampeã da São Silvestre (1989, 1990 e 1992), treinava numa região de vulcões
próxima a Toluca, sua cidade natal. Em São Paulo, superou o calor de 30
graus para vencer a primeira São Silvestre disputada no período da tarde. Ela
rememora o apoio do povo nas ruas: “Eu realmente admiro o público brasileiro
porque, como sempre disse, fui mais reconhecida em outro país do que no próprio
México. Sinto orgulho porque há corredoras, corredores e crianças que me dizem
que, por minha causa, praticam esportes e gostam de corridas”.
Foi a partir da 51ª edição que a São Silvestre passou a ter
uma prova feminina. A maior vencedora é a portuguesa Rosa Mota, com seis
títulos consecutivos que inspiraram gerações de novas corredoras. A brasileira
Maria Zeferina Baldaia assistiu as vitórias de Rosa na TV, quando criança, e
decidiu que também queria ser atleta. No entanto, realizar o sonho de vencer a
São Silvestre não foi nada fácil. “Eu corri durante 15 anos descalça porque eu
não tinha tênis, meus pais não tinham condições de comprar e mesmo assim eu
continuei correndo. Eu tinha o objetivo de ajudar minha família”, relembra.
Treinando nos canaviais de Sertãozinho, no interior de São
Paulo, Maria Zeferina deu os primeiros passos que a levariam à inesquecível
vitória da São Silvestre em 2001. O título não mudou apenas a vida de sua família,
mas também ajudou a fortalecer a cultura esportiva na sua cidade, que hoje
conta com um centro olímpico batizado com seu nome.
Ao longo de um século, a São Silvestre se consolidou também
como um fenômeno popular. Milhares de atletas amadores de todo o país se
encontram na Avenida Paulista para celebrar a virada do ano, a superação dos
próprios limites e a paixão por correr. Entre eles, estará Ana Garcez,
conhecida pela comunidade do atletismo como “Ana Animal”. Ela chegou a morar
nas ruas, mas hoje tem a chance de passar por essas mesmas vias celebrando a
corrida como um propósito na sua vida.
“A corrida me trouxe perseverança, me trouxe alegria. Se não
fosse a corrida, hoje eu não estava falando aqui com você”, conclui.
Para marcar o centenário, a São Silvestre deste ano será a
maior edição da história. São esperados cerca de 55 mil participantes, com
provas feminina, masculina, para pessoas com deficiência e também a São
Silvestrinha, evento que reúne duas mil crianças e adolescentes de várias
partes do país.