Para o segundo episódio de “Ofício em Cena”, Bianca Ramoneda
recebe Gloria Perez. No programa que vai ao ar nessa terça-feira (21/04), às 23h30,
na GloboNews, a autora fala sobre seu processo criativo ao escrever para
dramaturgia de TV. “O escritor nasce pronto, a percepção dele está voltada para
a dramaturgia da vida, da mesma forma que olhar de um pintor privilegia as
cores”, diz. Sem descartar a importância da técnica, Gloria afirma que talento
e vocação também são fundamentais.
Durante a conversa, Gloria lembra o início da carreira,
quando trabalhava como pesquisadora e buscava uma chance como escritora. Ela
conta que para onde ia, levava um roteiro de Malu Mulher em busca de alguém que
se interessasse pelo material. “Ninguém lia!”, revela com bom humor.
A primeira oportunidade surgiu quando Janete Clair, já
doente, buscava um colaborador e leu o seu material. Se conheceram, se tornaram
parcerias e em pouco tempo Gloria se tornou colaboradora de Janete naquela que
seria a sua última obra. É com carinho que Gloria lembra dessa experiência,
quando Janete, já no hospital, ditava a ela os capítulos da novela. “Um dia ela
me disse: vou te ensinar tudo porque não sei se chegarei no fim da novela, mas
essa novela tem que chegar ao fim”, recorda. Sobre o período no qual trabalhou
como colaboradora: "foi uma coisa maravilhosa, porque você aprende a
escrever sobre o ponto de vista de outro. O que para escritor é muito
importante, você vai escrever personagens, você tem que se meter naquelas
peles, né? Isso é uma coisa difícil, exige treino, humildade e exige uma coisa
que eu acho fundamental para escritor: a gente ter noção de que o nosso umbigo
não é o limite do mundo”.
Sobre o processo criativo, a autora destaca a importância de
pesquisas minuciosas sobre o tema abordado e o trabalho em equipe na fase de
pré-produção. Na relação com o público, afirma que autor não deve ser
subordinado ao público porque este gosta de ser surpreendido. "O autor não
deve ser subordinado ao público. Até porque o público também gosta de ser
contrariado, gosta de ser surpreendido. A multidão não tem criatividade, a
multidão pensa no que já viu. Então, cabe ao escritor de novela
surpreender o público, introduzindo uma nova possibilidade nesse arquivo que
ele tem", defende.
A importância das novelas para o Brasil também são tema do
papo e Gloria faz um comparativo com Hollywood ao afirmar que as novelas
fizeram pelo Brasil o mesmo que Hollywood fez pelos Estados Unidos: documentou
gerações, em um retrato de realidade na ficção. “No Brasil o registro da sociedade é feito
pelas novelas, que capturam o ritmo do cotidiano”, conclui.