O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi o convidado do
Mariana Godoy Entrevista da última sexta-feira (27/11). FHC afirmou que o
atual governo não pode fazer um "pacto com o demônio" para se salvar
e disse que o ex-presidente Lula "não tem mais essa capacidade de atração,
pois o seu partido está muito envolvido com os escândalos de corrupção".
Sobre as indicações para a Petrobras, Fernando Henrique falou
que certa vez recusou Eduardo Cunha para a presidência da estatal. FHC disse
que sente "preocupação pela democracia do Brasil", e que o problema
vai muito além da eleição de Cunha. Fernando Henrique disse que vetou o nome do
atual presidente da Câmara porque já tinha conhecimento do político desde os
tempos do presidente Itamar Franco, quando, segundo FHC, já havia
"alguma" suspeita com relação ao nome dele. "Você tem que
resistir às pressões quando elas são indevidas", analisou.
"As pessoas não são nem só boas nem ruins, depende da
circunstância. Acho errado imaginar que os políticos todos são "um bando
de não sei o que". Eles representam o povo brasileiro", definiu o
ex-presidente. "O povo também erra. Veja no atual caso", cutucou
Fernando Henrique.
Falando sobre a atual situação de Dilma Rousseff, o
ex-presidente, que não é contra o impeachment, cita o caso de Fernando Collor.
"Você não pode ter como objetivo o impeachment. Acontece que, diante de
fatos, você não tem alternativa, você tem que fazer o impeachment", falou.
"Eu acho que a presidente Dilma, quando reeleita, já
sabia da situação que o Brasil estava. Ela já errou ao não convocar todos em
uma coesão ao redor dela. Continua numa posição de nós e eles. Não é que ela
errou no começou, ela continua errando, se isolando. O impeachment tem que
analisar o erro, lá no Congresso. E olha que tragédia, quem escolhe é o
Cunha", afirmou.
Mariana perguntou se nem um "pacto com o demônio"
salvaria o atual governo, para o que Fernando Henrique respondeu: "Pacto
com o demônio nunca salvou ninguém, vai para o inferno".
Sobre o caso de Paulo Francis, que foi processado pela
Petrobras por um texto onde questionava a corrupção da estatal, Fernando
Henrique disse que o jornalista "não tinha um elemento de
comprovação".
Questionado sobre as críticas ao governo do PSDB, de que os
casos "não andavam", o ex-presidente disse que essas acusações
"não tinham base". Segundo FHC, estes processos não seguiram pois
"não havia crime".
Fernando Henrique disse que admira "explicitamente"
o trabalho do juiz Sergio Moro e dos investigadores da Polícia Federal que
comandam as investigações da Operação Lava Jato. No entanto, o ex-presidente
destacou que Dilma deveria ser mais investigada pela compra da refinaria de
Pasadena, nos Estados Unidos.
Sobre a doação de empresas para campanhas políticas, Fernando
Henrique disse que a proibição vai trazer "a volta do Caixa 2".
"Deve-se acabar a marquetagem da campanha, diminuir os gastos da campanha.
O partido já tem dinheiro público, a televisão é paga pelo converso. Proibir
doações de pessoas até certo ponto. E deve-se proibir que doe dos dois lados.
Seria favorável a doações mais realistas. A campanha custa dinheiro, quem vai
pagar? Só o governo?", analisou.
O jornalista Eric Klein trouxe as perguntas do Twitter. Os
espectadores queriam saber da história de que o PSDB teria comprado votos para
garantir a legalidade da reeleição: "Claro que houve essas denúncias. Mas
não foi culpa minha, não foi PSDB, e mandamos apurar. A população era a favor,
os jornais eram a favor, e eu ganhei a eleição. Isso foi uma tentativa do PT
tentar timbrar o assunto."
"Eu quero ver quantas pessoas têm coragem de abrir o
jogo", disse o ex-presidente sobre a atualidade de seu livro.
O ex-presidente disse que não se arrepende do decreto que
liberou a Petrobras para receber licitações. "Ou você libera sua empresa
para competir com empresas internacionais ou você quebra ela", justificou.
"Você não resolve essas questões de corrupção sem fiscalização. E não
houve fiscalização, houve um relaxamento de todos os controles. Não havia
controle de nada, havia combinação prévia", disse Fernando Henrique.
"Eu não acho que [o PT] acabou, ou deva acabar. O PT é
um partido que fez muita coisa, coisas importantes", disse o
ex-presidente. Sobre o mensalão, Fernando Henrique ressaltou que "não
houve frouxidão" nas investigações, mas que o povo "balanceou e achou
que estava bem". "Talvez não houvesse a massa de informações que
existe hoje, eles não recebiam a informação como hoje", disse. "Acho
que o PT vai ter que se regenerar primeiro", concluiu.
Fernando Henrique disse que o PSDB deve ser a
"convergência" do que é necessário fazer no Brasil hoje.
"Democracia do povo não é simplesmente votar, é o comportamento do
povo", destacou o ex-presidente. FHC disse que o partido não tem medo
de que o ex-presidente Lula se candidate. "Lula não tem mais essa
capacidade de atração, pois o seu partido está muito envolvido com os
escândalos de corrupção de atualmente e ele não pode fugir disso",
afirmou. "Hoje ele representa coisas diferentes".