O "Mariana Godoy Entrevista" debateu, na última
sexta-feira (24/06), diversidade sexual e identidade de gênero. Entre os
convidados, estavam a cartunista Laerte Coutinho e a ativista transexual
Jacqueline Rocha Côrtes. Para auxiliá-las na discussão, a Coordenadora do
Programa Transcidadania da Prefeitura de São Paulo, Symmy Larrat, o psiquiatra
Saulo Ciasca, o advogado Paulo Iotti e várias outras pessoas que vivem a
realidade transgênero no dia a dia do país.
A cartunista Laerte falou sobre a importância de se discutir
gênero, independentemente da opção sexual das pessoas. "Quando falamos de
desigualdade de gênero, estamos falando do que as mulheres sofrem também, do
que o patriarcalismo criou, como papéis para homens e mulheres, de submissão,
de opressão. E, nisso tudo, a existência das identidades trans", falou.
Jacqueline seguiu o mesmo raciocínio e defendeu que
independentemente do rótulo cis e trans, as mulheres estão em pé de
igualdade. "Para além das classificações, a diversidade sexual é ampla.
Mais do que diversidade sexual, estamos falamos de diversidade humana. Se nós
rotulamos aquela de mulher trans, então aquela é mulher cis, mas são todas mulheres.
Para além de qualquer identidade classificatória, eu tenho a minha identidade
íntima e ela é legítima", disse.
Ao mostrar um de seus cartuns, Laerte comentou a importância
do trabalho em sua vida. "A gente vai se conhecendo e aprendendo a se
expressar. Vamos buscando o nosso próprio padrão de beleza, como todo mundo. Ao
passar a fronteira da proibição, a gente entra em um território de aprendizado,
de novidades", ressaltou.
Jacqueline contou sua história, reproduzida em documentário.
Desde muito cedo teve que expor a identidade e se disse orgulhosa por ser uma
das pioneiras na luta pelos direitos dos transexuais. "Sou uma mulher que
vive com Aids há 22 anos, numa ocasião em que sequer pensaria em fazer uma
cirurgia de transgenitalização. [A cirurgia de adequação sexual] Aconteceu em
2001, no Hospital das Clínicas. Na época, o médico teve receio porque eu tinha
Aids. Fico muito feliz em saber que contribuí socialmente, porque fui a
primeira mulher trans com Aids em quem ele fez a cirurgia e, a partir daí,
abriu caminho e hoje isso não é mais tabu", revelou.
A ativista também relatou a experiência de militante na
Organização das Nações Unidas (ONU) e contou como quebrou preconceitos em um
ambiente majoritariamente masculino. "Confesso que foi um estranhamento
total para mim, um universo que desconhecia. Jacqueline chegava lá, a mulher
que ela é, e os homens todos daquele mundo tendo que me dar beijinho. Isso foi
quebrando paradigmas a ponto de quando saí da ONU, eles falavam: você não deve
sair, porque simboliza a diversidade nas Nações Unidas. A ONU foi uma escola
pra mim, como eu acredito que fui uma escola para eles", enfatizou.
Para lançar ainda mais luz sobre a questão, o programa exibiu
a história de uma família composta por quatro integrantes transgêneros. Helena
tentou cometer suicídio pela falta de apoio da família biológica, enquanto
Klaus foi discriminado de todas as maneiras após ser roubado e não conseguir
provar ser quem era em virtude dos nomes femininos em seus documentos.
O presidente do Grupo de Advogados pela Diversidade Sexual,
Paulo Iotti, lamentou a dificuldade de transexuais para modificar o nome
legalmente. "Para mudar o nome é preciso entrar com uma ação na Justiça,
provando que é conhecido por outro nome. Para as pessoas trans, infelizmente,
muitos juízes ainda exigem que se realize a cirurgia. A luta do movimento é
para poder mudar o nome e o gênero no documento, independentemente da cirurgia
de transgenitalização", explicou.