Com mais de 50 anos de carreira, o artista gráfico e
jornalista Elifas Andreato é o convidado do Inspira.mov Brasil, produção
inédita que a TV Cultura exibe nesta quarta-feira (20/07), à meia-noite.
No programa, ele comenta a preocupação social de suas obras.
Elifas também lembra as capas de discos que criou para os mais importantes
nomes da MPB e os trabalhos denunciando a violência do período do Regime Militar.
Andreato inicia o programa lembrando-se de sua família de
camponeses e operários no interior do Paraná. “Sou o filho mais velho de uma
família de seis irmãos, e fiz o parto do meu irmão mais novo que hoje é um
grande ator e diretor de teatro, Elias Andreato”, diz. Ele recorda que a
mudança para São Paulo foi traumática, uma vez que ele era tão humilde que só
foi calçar sapatos aos 12 anos de idade e aprender a ler na adolescência.
Elifas explica que, quando trabalhava como torneiro mecânico,
em São Paulo, começou a fazer charges para o jornal da fábrica e a pintar
painéis que decoravam os bailes da empresa aos sábados. Neste local, Dona
Gilda, a assistente social, o incentivou a seguir com sua arte e o apresentou
às imagens dos meninos de Brodowski, pintados por Portinari, com as quais ele
se identificou. “Eu me senti naqueles desenhos”, afirma. “Mas eu percebi que
poderia fazer aquilo (as imagens) também”, afirma.
A partir do final dos anos 60, Andreato começou a trabalhar
na Editora Abril, onde participou da equipe de criação de inúmeras publicações
voltadas para a cultura brasileira. Nos anos 1970, destacou-se como criador de
capas de discos para os mais importantes nomes da MPB, como Chico Buarque,
Adoniran Barbosa, Paulinho da Viola e Martinho da Vila. Andreato conta que é
grato a Vinícius de Moraes porque o poeta o inspirou a ter filhos e a criar uma
família.
O artista fala sobre a preocupação social de vários de seus
trabalhos. Ele foi o criador da imagem do Prêmio Vladimir Herzog e foi
convidado pela Comissão Nacional da Verdade para criar o painel A verdade
ainda que tardia, que ilustra as prisões e espancamentos da ditadura militar.
“Eu não me sentia em condições de fazer este trabalho, mas o presidente da
comissão chilena me disse uma coisa, e não tive como fugir: ‘Elifas a gente
acredita no holocausto porque tem as imagens do holocausto. Aqui, a gente tem
relatos (das torturas) e não imagens. Então você precisa fazer isso’”, conclui.