Ele se define como um diretor muito chato e controlador.
Acredita na parceria, mas se o ator não gosta de ser dirigido prefere nem
trabalhar com ele. Essas são algumas das convicções que Vinícius Coimbra,
diretor de TV e cinema, expõe no ‘Ofício em Cena’ desta terça-feira (27/09), às
23h30, na GloboNews.
No programa, o diretor, que assinou trabalhos de sucesso na
televisão como as novelas ‘Liberdade,
Liberdade’, ‘Lado a Lado’ – eleita a melhor novela da TV mundial com o
Emmy Internacional em 2013 – e a minissérie ‘Ligações Perigosas’, conta como
prepara uma cena e como é sua relação com os atores no set, durante as
gravações. "Eu aprendi que a direção do ator não deve passar pela razão. É
feita de poucas palavras e às vezes até sem palavras. Descobri que você
consegue dirigir um ator sem falar nada. Existe uma conexão energética, não sei
de que natureza ali. Você ouve o ator e o ator te ouve sem vocês precisarem
entrar no campo da razão", revela.
Adepto do que chama de "gesto mínimo, palavra
mínima", o diretor considera que o fundamental é tirar o que é artificial
no trabalho do ator, o que não está conectado com a emoção dele: "Quando o ator está fazendo muito é
porque ele não está sentindo muito. Normalmente, isso é um recurso, um artifício que o ator
usa para suplantar a falta do sentimento".
Ele explica ainda que faz parte do seu ofício dar à cena o
tom exato da emoção. “Às vezes a pessoa se prepara tanto que acaba entrando em
cena com uma emoção maior do que ela pede. Faz parte do meu trabalho enxugar o
que é artificial no trabalho do ator, o que não está conectado com a emoção
dele”, explica.
Além das novelas e filmes, Vinícius Coimbra é fascinado por
clássicos da literatura, o que fez com que ele adaptasse Shakespeare, Choderlos
de Laclos e Guimarães Rosa. Apesar de não se achar um bom roteirista – “não sou
um bom escritor, sou um bom adaptador, acho que interpreto bem bons textos” –,
esses trabalhos não o intimidaram pela envergadura dos textos, mas o ensinaram
a respeitar a palavra original e a confiar no sentimento do autor.
"Pesquisando sobre como o (Walter) Avancini tinha feito
o "Grande Sertão, Veredas", eu descobri que ele teve alguns textos
adaptados, alguns scripts, e no final
das contas jogou tudo fora, pegou o livro, botou debaixo do braço e foi para o
sertão. Aquilo me tocou muito. Falei: Ele confiou na palavra do Rosa. Em vez
dele modificar a palavra, ele confiou. E usou realmente textos na íntegra do
"Grande Sertão. Eu resolvi ir nessa”, conta.