Desde suas origens e até os dias de hoje, os instrumentos
musicais passam por transformações, preservando as semelhanças e diferenças
existentes entre si. Juntos, eles se harmonizam e são agrupados, de acordo com
suas características sonoras, em cinco famílias distintas. A história e a
evolução da flauta, do clarinete, do oboé, do fagote e do saxofone,
instrumentos pertencentes à família das Madeiras, bem como seus registros
sinfônicos estão no documentário A Democracia das Madeiras, dirigido por
Marcelo Machado. A produção inédita vai ao ar nesta sexta-feira (21/10), às
20h, no SescTV.
“Quando soprou um osso pela primeira vez, o homem
pré-histórico descobriu que dali era possível extrair sons diferentes, inéditos
e belos”, diz o jornalista e crítico João Marcos Coelho, responsável pelo
roteiro e concepção do documentário. Assim foram criados os instrumentos, que
ao longo dos anos, se aprimoraram em formas e sonoridades.
Eles se juntaram em uma orquestra sinfônica no século XVIII,
e a partir daí conquistaram todos os gêneros musicais. A flauta, o clarinete,
oboé e fagote surgiram primeiro em madeira e depois tiveram suas versões em
metal no século XIX. Neste período, o saxofone, que já existia em metal, foi
feito em madeira pela primeira vez.
Independentemente dos materiais em que são produzidos, os
cinco instrumentos de sopro necessitam de palhetas que, localizadas no bocal,
provocam vibrações com a passagem do ar. Essas palhetas eram originalmente
feitas de madeira. O oboísta Alexandre Ficarelli conta que elas são
confeccionadas pelos próprios músicos artesanalmente, e que podem ser duras ou
macias, com mais ou menos articulações. “Uma palheta que a gente toca Bach é
diferente de uma que a gente toca Strauss”, explica.
O documentário apresenta os instrumentos da família das
madeiras, começando pelo clarinete, com suas sonoridades que vão do piccolo
(agudíssimo) ao contrabaixo. O clarinete foi criado no início do século XVIII
pelo alemão Johann Christoph Denner, ao colocar uma chave de registro na
charamela (instrumento de sopro, de palhetas duplas, com furos no corpo).
Também descendente da charamela, o oboé apresenta suas variações soprano, corne
inglês e d´amore.
Surgido em meados do século XVIII, o fagote pertence a um
grupo pequeno, formado pelo fagottino (tenor) e contrafagote (baixo profundo).
Segundo o fragotista e contrafragotista Romeu Rabelo, em 99% das vezes este
instrumento é o que tem o som mais grave em uma orquestra. A flauta - que teve
sua origem em um osso de tíbia há 40 mil anos e foi evoluindo, passando pela
madeira, metal, prata e até ouro - possui 11 variações, com sonoridades que vão
do piccolo ao hiperbaixo.
Por fim, a produção fala sobre o saxofone, surgido no século
XIX na Europa, no auge da industrialização, com inovações proporcionadas pela
tecnologia da época. Construído pelo belga radicado em Paris Adolphe Sax, o saxofone
pertence a um grupo de onze instrumentos, com sonoridades que vão do
sopraníssimo ao subcontrabaixo.
Realizado pelo Selo Sesc, A Democracia das Madeiras traz
trechos de obras sinfônicas, como Concerto para Quatro Violinos RV580,
composição de Antonio Lucio Vivaldi; Chorando Baixinho, de Abel Ferreira;
Quatro Peças para Oboé (primeira peça), de E. Krenek; A Sagração da Primavera,
de I. Stravinsky; e Chorinho para Ele, de Hermeto Pascoal. O documentário foi
gravado no Sesc Consolação, na capital paulista, e lançado em DVD em outubro de
2015.