Lançando o livro "Em nome dos pais", o jornalista
Matheus Leitão é o entrevistado do programa “Conversa com Roseann Kennedy” nesta
segunda (29/05), às 21h30, na TV Brasil.
A obra, que demorou dez anos para ficar pronta, reconstrói a
história de seus pais, os também jornalistas Míriam Leitão e Marcelo Netto, que
na década de 1970, foram presos e torturados pelo regime militar.
"O que eu tento fazer é um retrato de uma época. Eu faço
o retrato de 1972, 1973. O contexto era de uma perseguição violentíssima contra
aqueles que eram contrários ao regime. O regime já havia formado os seus
líderes da repressão. Então, a ditadura naquele momento torturava, matava e
ocultava cadáveres. Isso está nos livros de história", destaca o autor
para Roseann Kennedy.
Movido pela curiosidade de compreender o passado, Matheus
realiza uma verdadeira peregrinação em buscas de respostas. Ao colher relatos
dolorosos de um período nebuloso do país, o jornalista reconta a trajetória de
seus pais que na juventude participaram do movimento estudantil. Ele relata
também as circunstâncias que levaram os protagonistas à prisão e tortura nos
porões dos quartéis.
"É o retrato de um Brasil triste. Retrato de um Brasil
que precisa ser elaborado melhor, na minha visão. O Brasil não soube elaborar
esse momento. É como se a gente escondesse essa história debaixo do tapete e
não quisesse falar. Mas eu acho importante falar", afirma.
O escritor, que a princípio se sentiu desconfortável para
narrar essas memórias por causa de seu envolvimento emocional, acabou
mergulhando de cabeça no projeto. Por meio de uma apuração rigorosa e do uso da
Lei de acesso à Informação, Matheus Leitão descobriu nomes e fatos que foram
mantidos em segredo por muitos anos pelos militares.
O jornalista conta que acabou ficando cara a cara com o homem
que delatou os seus pais ao regime. O delator, Foedes dos Santos que era líder
do comando regional do PC do B no Espírito Santo, demonstrou profundo
arrependimento e revelou que só entregou os companheiros por não aguentar a
tortura ao qual ele alega ter sido submetido.
Apesar da carga emocional que envolveu este projeto, Matheus
revela que não fez o livro movido por nenhum sentimento de ódio ou vingança e
explica que a obra é uma tentativa de estabelecer um diálogo.
"A minha ideia nunca foi vingança. A minha ideia foi
sempre assim: Vamos dialogar? Vamos conversar? Como é que era? Porque aconteceu
isso? Porque torturavam? E o diálogo até hoje, trinta e dois anos depois do fim
oficial do regime (militar) ainda é difícil", define.
Para ele, o livro "Em nome dos pais" também levanta
uma questão importante, mas ainda longe de ser respondida: "É possível uma
reconciliação?". E por fim, o autor completa: "Eu tento levantar esse
questionamento de uma reconciliação numa segunda geração. Uma segunda geração
dos filhos daquele tempo. Os filhos dos anos de chumbo, seja de um lado ou de
outro. Seja dos militares ou daqueles que fizeram resistência ao regime
militar. E é uma questão que fica no livro".
"Em nome dos pais" é o livro de estreia do
jornalista. Na próxima terça-feira, dia 30 de maio, Matheus Leitão lança a obra
no Rio de Janeiro, na Livraria Travessa, do Shopping Leblon, às 19 horas.
O programa Conversa com Roseann Kennedy tem horários
alternativos na TV Brasil na madrugada de segunda para terça às 2h45. A atração
jornalística também vai ao ar aos domingos, às 19h30.