Cinco vezes campeão brasileiro, bicampeão paulista e com
passagem pela Seleção Brasileira de Basquete, o atleta Márcio Cipriano tem uma
carreira vencedora. Depois de 23 anos dedicados ao basquete, ele atua agora
como coach com foco no indivíduo negro para ajudar as pessoas a superarem
preconceitos rumo ao sucesso. Márcio Cipriano é entrevistado nesta
segunda-feira (26/06), às 21h30, no Conversa com Roseann Kennedy, pela TV
Brasil.
Apostando no conhecimento e na ideia de que o sucesso não é
um acidente, Cipriano justifica a criação do projeto BlackCoachBrasil: “O
negro tem por sua história saber sobreviver. Ele sabe se virar dentro das
condições que ele tem e historicamente vem provando isso muitas vezes”.
Para Márcio, a questão racial e o preconceito ainda são dois
grandes problemas a serem enfrentados no país e diz que o esporte, muitas
vezes, pode mascarar esse tipo de discriminação. “No esporte não há muito esta
questão da cor, igual há na sociedade. O esporte é meio daltônico. Se você tem
um talento muito forte as pessoas vão te aceitar como você é e pronto. As
pessoas te enxergam primeiramente como atleta. Depois enxergam se você é negro
ou se você é branco”, diz.
Para ele, a forte presença dos negros no esporte contribui
para que alguns atletas ganhem respeito dentro e fora das quadras. Apesar
disso, Cipriano faz um alerta: “Isso é bom de uma certa forma, mas também pode
te deixar iludido, achando que você está à parte daquelas coisas que acontecem
na sociedade, que tá protegido... e na verdade não”.
Quando era jovem, a caminho do treino, Cipriano sentiu na
pele o preconceito por causa de sua cor. Chegou a ser confundido com um
assaltante quando corria com um amigo para pegar um ônibus no centro de São
Paulo. Ele relembra o episódio em que foi parado por um policial. “Perdemos o
ônibus porque ele achou que a gente tinha assaltado alguém. Mesmo que ninguém
tivesse gritado pega ladrão, eles deduziram que dois moleques pretos correndo
no centro estavam fazendo alguma coisa errada”, declara.
Para o ex-atleta, o esporte pode ser um divisor de águas na
vida de qualquer ser humano. Ele conta como o esporte salvou a sua vida: “Meu
pai era alcoólatra, batia na minha mãe. A gente morou em muitos lugares de
risco, moramos em bairros barra pesada. As amizades, os lugares que eu
frequentava... eu tinha tudo para dar errado. Talvez se não fosse o basquete
chegar quando eu tinha 12 anos, podia ser que eu não fosse o cara que eu sou
hoje”.
Para Cipriano é preciso apostar nas novas gerações. Mas
lamenta que assim como a educação e a saúde, o esporte também não é prioridade
no país. Para ele, falta um direcionamento aos mais jovens. “Um livro salva, o
esporte salva, a educação de forma geral salva vidas. A música, a arte em si
salva vidas”, afirma. E completa: “Tem que ter um foco na construção. Às vezes
você não tem uma meta muito clara, mas você não quer viver o que você tá
vivendo, faça uma meta pra você poder sair dali, pra você ter uma vida melhor.
Se a criança cedo entender isso, a vida fica mais leve”.
De seus tempos de atleta Cipriano relembra que comia,
jantava, almoçava e respirava o basquete e que passava dentro das quadras mais
tempo que seus companheiros de time. Hoje, sente-se realizado com os resultados
que conseguiu. “É uma vida de sacrifício. Porque é duro fazer isso. É duro você
se comprometer todos os dias”, salienta.
Ele diz que as pessoas que geralmente veem o atleta ganhando
medalhas não sabem o trabalho que está por trás dessa carreira: dificuldades,
dedicação e superação de limites. “Ser atleta não é saudável. Saudável é você
caminhar, correr, trabalhar tranquilo e ir no seu limite. Atleta é programado
para passar dos limites”, frisa.
Ele revela que aprender a conviver com a dor é um desafio
constante na vida do atleta. “Não importa se ele tá com dor, se ele tá triste,
se ele não tá num bom dia, ele tem que estar ali pronto para passar dos seus
limites. E passar os seus limites, às vezes passa o limite do próprio corpo”,
observa.