Com o objetivo de levar ao espectador, sentimentos, emoções,
desafios pessoais e de interação social de deficientes físicos ou mentais, e proporcionar
mais visibilidade a esses cidadãos, o SescTV estreia neste mês a série
Diferente Como Todo Mundo, com curadoria de Zita Carvalhosa.
Serão exibidas 20 produções, com durações entre 9 e 25
minutos, que participaram, em épocas distintas, do Festival Internacional de
Curtas-Metragens de São Paulo - fundado
por Zita, em 1989, com correalização do Sesc desde 1996. O recorte inédito para
a televisão surgiu a partir do programa de mesmo nome, que integrou a 27ª
edição do festival, em 2016, em parceria com o Festival Internacional do Filme,
em Cannes, na França.
A partir de narrativas de pessoas com alguma deficiência,
seja limitação do funcionamento físico-motor, problemas de mobilidade ou de
crescimento, sejam questões mentais, psiquiátricas ou de memória, os
curtas-metragens fazem dos deficientes protagonistas de suas próprias
histórias. A primeira produção a ser apresentada, no dia 20/7, quinta, às 21h,
é o premiado documentário Escute (2015), dirigido por Manoela Meyer. O filme
aborda percepções e experiências de deficientes visuais no cinema, como
profissionais ou meros admiradores da sétima arte. O curta ainda utiliza o
recurso de audiodescrição.
Mário Fioranni, neurocientista da Universidade Federal do Rio
de Janeiro - URFJ e especialista em visão, fala sobre o sistema visual dos
humanos que ocupa 1/3 do córtex. Ele explica que o ato de abrir o olho,
aparentemente simples, é o mais sofisticado que o cérebro é capaz de fazer.
Curioso e criativo, o cineasta João Júlio, 48 anos e cego
desde os 30, foi ao 47º Festival de Brasília no Cinema Brasileiro e conta que
as pessoas não entenderam o que foi fazer ali. Ele revela sua experiência em
dirigir um filme mudo. O diretor da Associação de Deficientes Visuais e Amigos,
Markiano Charan Filho, 70 anos e cego desde bebê, diz que o fato de deficientes
visuais frequentarem cinema é tão importante como comer e andar. Cego desde os
quatro anos, o italiano Mirco Mencacci, 53 anos e sound designer, fala sobre um
curta-metragem que produziu sem barulho, porém com 64 sons.
A audiodescrição, recurso utilizado em obras cinematográficas
para possibilitar o entendimento pelo deficiente visual, também é tema do
filme. Bell Machado, audiodescritora especializada em cinema afirma que é
importante respeitar a autoria e a linguagem do diretor no momento de elaborar
a audiodescrição. Luís Henrique Mauch, fundador da Ong Mais Diferenças, vê o
diretor como a melhor indicação para criar um roteiro de audiodescrição. Já
Rubens Rewald, cineasta e professor da Universidade de São Paulo - USP, fica
fascinado ao ver outras pessoas fazendo narrativas de um trabalho seu para
aqueles que não enxergam ou têm pouca visão.
Além deste, o SescTV estreia em julho outro filme premiado,
Criaturas que Nasciam em Segredo (1995), dirigido por Chico Teixeira. No ar dia
27, quinta, às 21h, o documentário reúne depoimentos de anões, homens e
mulheres, sobre suas vidas na metrópole, abordando questões como o preconceito,
a sexualidade, os sonhos, as dificuldades de encontrar trabalho e a vida
familiar.