“Nossa casa é pequena, mas o quintal é o mundo”. Renato Weil,
caravanista que já percorreu 59 países, enxerga com satisfação a vida nômade
que leva dentro de um veículo de 10m². Adeptos desse estilo de vida pouco usual
relatam suas experiências no documentário Motorhome, que integra a 2ª temporada
da série Habitar Habitat, com estreia nesta terça-feira (12/12), às 22h, no
SescTV.
Dirigido pelo jornalista Paulo Markun e pelo cineasta Sérgio
Roizenblitz, o episódio apresenta pessoas que escolheram viver em movimento,
viajando Brasil a fora com seu próprio abrigo, os chamados motorhomes, casas
motorizadas, semelhantes a trailers e peruas.
A história de Renato é partilhada com sua esposa, Glória
Tupinambá. Os dois eram jornalistas fixos, tinham um apartamento e um sítio,
além de amigos e família próximos. Viajavam muito, mas, para Glória, as férias
começaram a ficar pequenas para a paixão dos dois. “A ideia de criar um
motorhome nasceu na Austrália, mas a de ser nômade começou nos mochilões”,
comenta. Assim, com o projeto Casa Nômade, o casal fez a promessa de conhecer
todos os continentes. Apertados no veículo, eles gastam muito pouco e têm apenas
o necessário. Em troca, comemoram, “ganhamos cultura”.
O arquiteto Marcos Pivari, especialista no tema, explica que
o caravanismo é uma vertente do campismo, diferenciada pelo uso de veículos de
recreação, como trailers, carretas e motorhomes. O campismo, no mundo, começou
com as expedições militares e o escotismo, nos anos 1950 e 1960. Já a primeira
fábrica de motorhome é de 1964. Marcos comenta que, desde os anos 2000, com o
sucateamento dos campings, os jovens que acampavam tiveram de recorrer ao motorhome,
reanimando a prática. No Brasil, tais hábitos não são comuns. As belezas
naturais do país, contudo, comprovam seu potencial para o desenvolvimento do
caravanismo e o campismo. Mas, lamenta Marcos, “falta cultura e incentivo”.
Ainda assim, o casal Federico e Romina escolheu essa vida.
Ambos vivem com o filho Romeo, de cinco anos, em uma pequena Kombi. Há dois
anos, abdicaram do conforto urbano, da água quente, do fogão e do banheiro, e
decidiram circular pelo Brasil, registrando tudo em uma câmera. Para Federico,
viver dessa maneira é uma aventura. “Essa é a melhor sensação da vida: escolher
onde ficar”, conclui.
O episódio ainda apresenta Maria da Graça, 62, caravanista há
33 anos. A morte recente do marido, com quem viajava quase o ano todo em um
trailer, não a tirou da estrada. Ela questionou a filha, Eda, já adulta: “Vamos
chorar em casa, ou vamos chorar aqui (no trailer)?”. E seguiu cruzando o país.
A produção da série visitou o maior encontro de caravanistas
da América do Sul, na cidade de Pomerode (SC). Comparecem cerca de 500
veículos, de vários cantos do Brasil e outros de fora. Lá, os diretores
conversaram com três casais, que revelaram sentir, nos outros caravanistas, um
espírito solícito e hospitaleiro. Juntos, eles conversam, festejam e se sentem parte
de um mesmo grupo.