Os autores de livros-imagem não são escritores nem
ilustradores. Entre as duas categorias, eles se situam em um lugar limítrofe.
Por isso, “eles são tão experimentais”, afirma Ângela Lago.
A escritora e ilustradora mineira, que faleceu em outubro do
ano passado, aos 71 anos, é a entrevistada do episódio Palavra Desenhada, da
série Super Libris, dirigida pelo escritor, cineasta e jornalista José Roberto
Torero. A produção será exibida pela primeira vez nesta segunda-feira (18/06), às
21h, pelo SescTV.
Ângela Lago nasceu em Belo Horizonte, em 1954. Na década de
1980, começou a escrever os chamados livros-imagem, destinados majoritariamente
ao público infantil. “É um livro que se quer narrar através das ilustrações”,
elucida. Esses livros existem desde o século XIX; no Brasil, a moda começou
pelos livros do alemão Wilhelm Busch, traduzidos pelo poeta Olavo Bilac.
A autora considera os livros-imagem experimentais por
excelência, já que o autor não é escritor, nem ilustrador; ele ocupa uma
posição nova. “Dá tanta vontade de que esse encontro de linguagens se
transforme em uma coisa nova em que, em vez de parcerias, o autor faz parceria
consigo mesmo”, classifica a autora.
Ela revela que o surgimento dessa figura, do
escritor-ilustrador, tem explicações práticas. “O ilustrador, no Brasil, não
era remunerado com direitos autorais. Então, muitos ilustradores começaram a
escrever seu próprio texto, para ter um ganho mais significativo com seu
trabalho”, esclarece Ângela.
Para a autora, além de texto e imagem, o formato físico do
livro, com seus ângulos e dimensões, propõe significados à obra. “Eu uso os
dois para contar uma história. E o livro também. Eu procuro usar a arquitetura
do livro como uma possibilidade narrativa”, diz. Ela ainda ressalta que,
durante sua carreira, sua estética nunca teve unidade. “Meu caso talvez seja
não ter nenhum estilo, mas ter experimentado muitos”, brinca.
Além da entrevista principal, Ângela Lago participa de outros
quadros no episódio Palavra Desenhada. Em Pé de Página, ela explica como
costuma escrever de maneira confortável e revela tanto sua falta de rotina como
quais são seus locais de trabalho preferidos em casa. Ângela ainda confessa que
escreve à procura de beleza, alegria e prazer. No quadro Primeira Impressão, a
autora recomenda aos autores ilustradores a leitura do livro Onde Vivem os
Monstros, do estadunidense Maurice Sendak.
Ainda no episódio, o quadro Orelhas apresenta a tradutora e
adaptadora Tatiana Belinky. Na seção Prefácio, sobre literatura infantil, a
pedagoga Sandra Medrano conversa sobre o livro-álbum, formato bibliográfico que
mescla o texto com a imagem e o suporte do livro. No quadro Quarta Capa, os
blogueiros Juliana e Kalebe, do canal O Espanador, comentam sobre o livro
infantil Carvoeirinhos, do escritor e ilustrador Roger Mello. E em Epígrafe,
quadro novo da segunda temporada do Super Libris, o dramaturgo Paulo Rogério
Lopes fala sobre a experiência de ter adaptado para o teatro o livro A Saga de
Sigfried, o Tesouro dos Nibelungos, escrito por Tatian Belinky.