O presidente do Instituto para Reforma das Relações entre
Estado e Empresa, o advogado Walfrido Warde, acaba de lançar o livro “O
espetáculo da corrupção - Como um sistema corrupto e o modo de combatê-lo estão
destruindo o país”. Na obra, ele analisa o momento atual do Brasil e compara o
combate à corrupção ao câncer.
Warde observa que doença e paciente habitam o mesmo corpo e
sugere: “Temos que refletir, nos unir para criar uma legislação, criar uma
política de combate à corrupção que seja capaz de matar as células cancerosas e
manter o paciente vivo". Walfrido Warde é o entrevistado do programa “Conversa
com Roseann Kennedy” que vai ao ar nesta segunda-feira (22/10), às 21h15, na TV
Brasil.
Na entrevista e no livro, o advogado ressalta que faz
críticas ao modo que o combate está sendo executado, mas que isso não é
apologia à corrupção. Ele destaca a importância da operação Lava Jato. Ele
avalia que, diante de tantos escândalos, hoje há um clima de vingança e as
pessoas não percebem o dano econômico que a própria população está sofrendo.
“Nós temos que combater a corrupção, nós temos que combater
as causas dá corrupção, e nós temos que impedir que o combate à corrupção cause
efeitos colaterais adversos às empresas do Brasil. Porque sem empresa não tem
emprego, sem emprego não tem renda, não tem consumo, não tem tributação, não
tem desenvolvimento para o país”, detalha.
Para o advogado, hoje o imaginário da população é de que toda
relação entre empresas e governos estaria contaminada. Mas diz que é uma visão
equivocada. “Construir uma usina hidrelétrica, uma estrada ou aeroporto não é
ilícito. É importante para o país. O que é ilícito é conseguir um contrato para
fazer isso, pagando propina para um político. Como você depura o ilícito das
relações econômicas que são indispensáveis para o país?”, questiona.
Walfrido Warde considera que não há possibilidade de fechar a
fábrica da corrupção no país sem a regulamentação do lobby. “Quando eu me
refiro ao lobby eu me refiro ao lobby pré-eleitoral e pós-eleitoral. Ou seja, o
financiamento de campanha, aquelas doações que são feitas para financiar a
política, isso antes de eleger as pessoas aos cargos públicos. E depois de
eleitos, aquela pressão que a sociedade civil faz para que cada agente público
satisfaça o interesse que existe na sociedade civil”, defende. E critica: “Nós
temos uma regulação muito frouxa no Brasil e até inexistente.”
Walfrido relembra que antes da Ação Direta de
Inconstitucionalidade (ADI 4650) que proibiu a doação de pessoas jurídicas para
as campanhas eleitorais, havia um cenário onde as empresas doavam para todos os
candidatos com o intuito de manter boas relações com todos eles. “Era uma
situação que era claramente escandalosa e que ninguém falava nada”, condena.
Para o advogado é preciso estabelecer regras para evitar um
mal maior. “Ainda que esse processo seja imoral, ele tem que ser de certa forma
regulado e limitado, mas extirpar esse processo faz com que essas negociações
sejam feitas por debaixo do pano. E pior, abre espaço para que o crime
organizado financie a política no Brasil”, conclui.