Carlos Diegues, ou simplesmente Cacá Diegues, é entrevistado
no programa “Conversa com Roseann Kennedy” nesta segunda-feira (17/12), às
21h15 na TV Brasil.
O diretor está em cartaz com o filme "O Grande Circo
Místico". A produção lírica foi escolhida pelo Brasil para representar o
país na disputa por uma indicação ao Oscar 2019 na categoria de Melhor Filme
Estrangeiro.
A lista dos nomeados será divulgada em janeiro, mas Cacá não
supervaloriza o prêmio. Para ele, a crítica do público está acima de tudo.
"Eu não faço do Oscar o juiz supremo do cinema brasileiro. Aliás, de
nenhum filme do mundo, mas do brasileiro sobretudo. Quem julga a qualidade do
filme é o expectador", diz.
Cacá Diegues avalia que esse é o seu melhor filme. "É
uma síntese de tudo o que eu fiz em cinema até hoje, é uma síntese do que eu
penso do cinema", detalha. "O Grande Circo Místico" é uma
adaptação de um poema do alagoano Jorge Lima. A obra narra a história de cinco
gerações de uma família circense e é embalada pelas músicas de Edu Lobo e Chico
Buarque.
A produção é resultado de 12 anos de trabalho de Cacá
Diegues, que também considera ser uma obra diferente do que se produz
atualmente na América Latina. "O que se espera do cinema latino americano
é um cinema realista, dentro do que eles acham que é a América Latina. E esse é
um filme mais fantasia, meio barroco, com imagens que não são propriamente
realistas", compara.
Ao falar do futuro do cinema, Diegues é otimista. Ele destaca
que o Brasil está produzindo quase 180 filmes por ano e muito conteúdo de
qualidade. "Temos cineastas estreando com ótimos filmes que estão ganhando
prêmios no exterior e recuperando o prestígio do cinema brasileiro",
comemora.
Quanto à revolução tecnológica que hoje atinge todas as
artes, o cineasta responde que o futuro do cinema está na tela do celular.
"A gente tá filmando para o cinema, para o DVD, para a televisão e também
para o streaming. O streaming é a plataforma do momento", avalia.
"Quantas pessoas estão vendo, como é fácil você ter
(acesso ao filme). No dia que o streaming for uma indústria, uma economia
viável dentro do Brasil, você vai ver filme um atrás do outro", vislumbra
o cineasta.
Ainda sobre esse avanço digital, Cacá Diegues reclama de
quando o Festival de Cannes proibiu os filmes exibidos em plataforma de vídeo
pela internet. "Achei de um reacionarismo insuportável", diz, expondo
uma de suas características que é não ter medo de criticar nem de ser
criticado.
Em 1978, por exemplo, para rebater críticas dos que exigiam
postura política mais contundente nos seus filmes, Cacá se queixou das
"patrulhas ideológicas". O que ele não imaginava à época era que a
expressão de sua autoria seria tão atual até hoje.
"Eu não faço o filme para mudar a opinião de ninguém. Eu
faço filme sobre o estado do mundo. Eu não faço filme nem para o passado, nem
para o futuro. Eu faço o filme sobre o presente, sobre o que eu acho sobre o
estado do mundo para os meus contemporâneos. Então vamos ver juntos isso, vamos
discutir juntos. Agora, porque a ideologia tá errada, aí eu já não sei”,
desabafa.