Dividida em quatro partes, a minissérie O Cinema Sonhado -
que aborda as memórias do cinema paulistano do período de 1963 a 1990, com direção
e apresentação do cineasta Ugo Giorgetti - estreia seu último episódio, Nos
Caminhos da Vila Madalena, nesta sexta-feira (15/02), às 20h, no SescTV.
Profissionais do audiovisual falam sobre um polo de
produtoras cinematográficas que teve sua origem na ECA – Escola de Comunicação
e Artes da USP - Universidade de São Paulo e se firmaram na vizinhança, nos
anos de 1980. O programa trata, ainda, da importância da Embrafilmes e da
Cinemateca Brasileira.
Giorgetti conta que parte do cinema gerado na ECA se
transferiu para a Vila Madalena, onde os ex-alunos montaram suas produtoras e
realizaram seus trabalhos amparados pela Embrafilmes, concebida em 1969, com o
objetivo de fomentar a produção e distribuição de obras brasileiras, e extinta
em 1990. Segundo o diretor, esses criadores eram estudantes inexperientes no
mercado e nunca tinham tido contato com distribuidores e exibidores.
Gira Filmes, Barca Filmes e Super Filmes são algumas dessas
empresas que se instalaram na vizinhança da ECA. Com a situação econômica do
Brasil deteriorada naquela década, algumas delas tiveram problemas para se
manterem. O produtor Cláudio Kahns recorda que a Tatu Filmes, fundada por ele,
passou por dificuldades nos dois primeiros anos de existência, quando seus
trabalhos se resumiam a vídeos institucionais para a Shell, alguns
documentários e alugueis de equipamentos para coproduções.
Mesmo com os tempos difíceis para o cinema paulistano,
algumas películas lançadas na época tiveram sucesso, sendo premiadas em
festivais no Brasil e no exterior. Dentre elas, A Hora da Estrela (1985),
baseada na obra de Clarice Lispector, com direção e roteiro de Suzana Amaral e
produção da Raiz Produções Cinematográficas; A Marvada Carne (1985), com
direção de André Klotzel, e Feliz Ano Velho (1987), de Roberto Gervitz, baseada
no livro autobiográfico de Marcelo Paiva. Estas duas últimas foram produzidas
pela Tatu Filmes. “O que a gente estava procurando era fazer um cinema popular
de qualidade, um biscoito fino para a massa”, comenta Kahns.
O episódio Nos Caminhos da Vila Madalena aborda, ainda,
processos de criações das obras e a contribuição dos ex-alunos da ECA para a
Cinemateca Brasileira, criada em 1940. Segundo o produtor Guilherme Lisboa,
essa turma se preocupava em conservar, angariar recursos e modernizar a
Cinemateca. Em 1984, a instituição faliu, mas, com a presença do professor de
cinema Carlos Alberto Calil, houve uma absorção do órgão pelo Governo Federal
na Fundação Nacional Pró-Memória.
Entrevistados: Zé Bob, diretor de fotografia; Guilherme
Lisboa, produtor; Alain Fresnot, diretor e produtor; Cláudio Kahns, produtor;
Isa Castro – Diretora Cultural do Museu da Imagem e do Som; Pedro Farkas,
diretor de fotografia; Ana Maria Massoci Livieres, empresária; Suzana Amaral,
diretora e roteirista; André Klotzel, diretor e produtor; Roberto Gervitz,
diretor; Ismail Xavier, professor e escritor; Carlos Augusto Calil, professor
de cinema; Olga Futemma, técnica de acervo; e Francisco C. Martins, diretor de
cinema.