O retorno da atriz transexual cubana Phedra de Córdoba para
sua cidade natal Havana, 53 anos após deixar a ilha, é o tema do documentário
Cuba Libre, dirigido pelo cineasta Evaldo Mocarzel. A produção - que ganhou o
prêmio de Melhor Documentário pelo Júri Popular no Festival Mix Brasil da
Diversidade Sexual 2011, em São Paulo, será exibida pela primeira vez no
SescTV, neste sábado (16/02), às 22h. A atração será reapresentada nesta
quarta-feira (20/02), a partir da meia-noite.
Nascida como Rodolpho, Phedra de Córdoba é uma atriz
transexual, exilada no Brasil há mais de cinco décadas. As razões de sua
partida foram a incompatibilidade com o regime de Fidel Castro e a profunda
transfobia vigente na ilha. “Minha mãe, por exemplo, nunca aceitou minha
escolha. Mas papai sempre me deu muita educação e dignidade. Ele disse: ‘vá e
nunca esqueça de seu nome’”, relembra Phedra emocionada. Décadas depois, a
atriz retornou a Cuba, acompanhada do grupo teatral paulistano Os Satyros, do
qual faz parte, para encenar Liz, adaptação da obra do escritor cubano Reinaldo
Monteiro.
Durante a produção, Phedra visitou os lugares onde começou
sua vida artística, como a Sociedade Artística Galega, onde aos 13 anos
despertou para o teatro profissional. “Fizemos tantas aqui, como Rosália
Castro, García Lorca, Cecilia Valdes e Maria de Lá O. Fui muito feliz nesse
lugar”, diz.
A produção também faz referência as transformações sociais de
Cuba, na época em que a filha de Fidel Castro, Mariela, lutava por uma maior
aceitação de gays, lésbicas, transexuais e transgêneros. No País, antes dos
anos de 1960 e 1980, pessoas importantes foram condenadas à prisão por terem se
assumido como gays e escritores eram condenados a cortar cana nas lavouras, como
castigo. Em depoimentos, homossexuais relatam que mesmo com as adversidades de
se viver na ilha de Cuba, atualmente o preconceito diminuiu. “Atualmente já se
fala sobre casamentos homossexuais, cirurgia de sexo, e até mesmo a literatura
já aborda a questão da discussão de gêneros”, explica um dos entrevistados.
Muito emocionada, Phedra reencontrou alguns familiares, entre
eles o seu sobrinho René Horácio e esposa. Juntos eles veem fotos antigas de
família e relembram os parentes distantes. Phedra convida seus sobrinhos para
assistir ao espetáculo que será encenado em Havana, e para conhecer sua nova
família: seus colegas do Os Satyros.