O conceito de cidade é antigo na África, anterior a chegada
dos europeus ao continente e, até mesmo, ao surgimento dos primeiros povoados
nas colônias americanas. A origem e a participação do povo negro durante o processo
de construção das cidades brasileiras são temas abordados em “A Cidade Africana”,
quarto episódio da série documental A Cidade no Brasil, que estreia nesta
quarta-feira (24/04), às 21h, no SescTV.
Com direção da cineasta Isa Grinspum Ferraz, o assunto é
tratado pelos arquitetos e urbanistas Renato Cymbalista e Ermínia Maricato,
pelo poeta e produtor cultural Sérgio Vaz e pelos antropólogos Manuela Carneiro
da Cunha e Antonio Risério, autor do livro de mesmo nome da série, publicado em
2012, que serviu de base para a elaboração dos 10 episódios que compõem a
produção.
Antonio Risério abre o episódio A Cidade Africana falando a
respeito dos vestígios de vida citadina e da cultura urbana africana,
existentes há milênios de anos antes de Cristo. “Estudos arqueológicos
comprovam que há inúmeros exemplos de criação arquitetônica e urbanística
autóctone espalhados pelo continente africano”, afirma.
De acordo com o antropólogo, a contribuição desses povos,
sequestrados e trazidos para o Brasil na condição de escravos, foi restrita às
formas e práticas de cultura. “Não há influência africana no que se refere a
arquitetura e urbanismo. Desde os mais antigos templos de culto aos recentes
terreiros de candomblé, não há um só traço africano na feitura dos prédios”,
explica.
Ao falar sobre a Brasil colônia, época em que o homem branco
entendia o trabalho como um demérito, Ermínia Maricato ressalta a importância
da presença dos escravos africanos para a criação e manutenção das cidades
brasileiras. “Eles carregavam dejetos para os esgotos, a água e a lenha às
residências. Eram o combustível das cidades”, diz a arquiteta.
Segundo ela, essa cultura atrasou o desenvolvimento das
cidades brasileiras, porque, até hoje, grande parte da força de trabalho provém
de atividades domésticas. “Cidades como São Paulo, por exemplo, eu chamo de
senzalas urbanas. As favelas e periferias são como um depósito de gente para
trabalhar a qualquer hora, por qualquer preço”, esclarece.
O poeta Sérgio Vaz compara os subúrbios a repúblicas ou
países onde se convive com o racismo e a violência policial, e completa: “São
Paulo é a casa grande e nós somos a senzala, a periferia. Mas tentamos ser
felizes”.