Documentário inédito no SescTV, Feito Torto Pra Ficar Direito,
dirigido por Bhig Villas Bôas, viaja por diversas regiões do País,
principalmente a Norte e Nordeste, para mostrar como são feitos barcos
artesanais, uma atividade tradicional que pode deixar de existir em pouco
tempo. A produção - que venceu como Melhor Filme na 5ª Mostra
Ecofalante de Cinema Ambiental em 2016, na capital paulista - tem estreia nesta
sexta-feira (14/06), às 23h.
Em Feito Torto Pra Ficar Direito, mestres da carpintaria
naval, navegadores, modelistas náuticos, pescadores, arquitetos, engenheiros e
pesquisadores falam sobre a importância da construção dos barcos artesanais, as
técnicas utilizadas nesse processo, as dificuldades enfrentadas e ainda as
influências indígenas em seus feitios. Na maioria das vezes, essas embarcações
são o principal instrumento de trabalho e meio de transporte para diversas
famílias.
Na cidade de Cururupu - MA, o carpinteiro naval José da
Paixão Pereira, o mestre Belo, explica como se faz uma embarcação tradicional,
começando pela espinha dorsal, que é reta, com todo o restante torto. “O barco
é torto pra ficar direito na água”, esclarece Pedro Alcântara, experiente
mestre naval. Da mesma forma que ele, todos os mestres dessa arte não fizeram
nenhum curso, aprenderam tudo na prática. “É fabuloso o conhecimento que eles
têm das propriedades hidrodinâmicas de cada casco, em cada região”, diz o
navegador Almyr Klink.
Para ele, as particularidades individuais de cada casco é um
método que a maioria dos engenheiros navais não tem intelecto para compreender.
Klink ressalta que só depois de muitos anos a construção náutica acadêmica
incorporou as características desses modelos simples em barcos modernos.
Dalmo Vieira Filho, arquiteto e idealizador do projeto Barcos
do Brasil, comenta que as embarcações artesanais tiveram suas origens em
diversos continentes, e o patrimônio naval brasileiro é um dos mais
significativos no mundo. Ele rememora a visita do último imperador do Brasil à
cidade de Penedo, em Alagoas.
“O que chamou a atenção de Dom Pedro II foi a exuberância e o
número de barcos a vela que cruzavam a paisagem do Rio São Francisco, conhecido
como rio da integração nacional, em frente à Penedo”, conta Vieira Filho. O
arquiteto comenta também que hoje, com o baixo nível da água do Velho Chico,
como é carinhosamente chamado o rio, não há tantas embarcações como no passado.
Luiz Philipe Andrés, engenheiro e diretor do Estaleiro Escola
do Maranhão, fala sobre os barcos com velas tingidas de vermelho,
característicos do Pará e do Maranhão, uma tradição indígena, que mistura
resina do mangue com sumo de bananeira, que, segundo ele, protege o tecido.
Dentre essas embarcações, está a canoa costeira de proa chata, única com este
desenho no mundo. O modelista naval Luiz Lauro Pereira Jr. diz que com este
formato de proa, a canoa fica mais veloz e estável sobre as ondas. Ele comenta
sobre as técnicas utilizadas na construção dessa embarcação, que foram
aperfeiçoadas e inseridas em barcos modernos.
O documentário Feito Torto Pra Ficar Direito aborda, ainda, a
biana, a canoa de risco, as primitivas jangadas, o bote bastardo e a canoa de
tolda. Esta última, assegura Carlos Eduardo Ribeiro Jr., da Sociedade
Socioambiental do Baixo São Francisco, traz aspectos gerais da navegação
portuguesa. Já o modelista Carlos Heitor Chaves fala sobre o uso de madeiras
nas construções das embarcações, os tipos mais usados e o impacto que causa ao
meio ambiente.
Além deste documentário, nesta sexta, a partir da meia-noite,
o canal exibe, com o tema Embarcações Típicas do Brasil, o episódio Saveiro, da
série Coleções, que trata da origem polêmica às adaptações ao clima e a
navegabilidade brasileira dessa embarcação. A produção discute o movimento do
saveiro nas águas pela força do vento, o porte, o peso, as manobras lentas e o
quanto é silencioso.