Em novo dia e horário, às quintas, às 21h, durante a
programação de verão da TV Brasil, o programa Caminhos da Reportagem revela o
drama de pessoas que atravessam fronteiras para fugir da miséria e da fome
nesta quinta (05/12).
A equipe da emissora pública acompanha a situação de jovens e
até de gestantes da Venezuela na chegada ao território brasileiro na reportagem
"Depois da fronteira: a vida das crianças imigrantes".
O programa destaca que desde 2017, mais de 200 mil
venezuelanos vieram para o Brasil em busca de uma vida melhor. Entre os
imigrantes, vieram cerca de 10 mil crianças e adolescentes, segundo estimativas
do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
Nessa edição inédita, a equipe do Caminhos da Reportagem
esteve em Pacaraima e Boa Vista, em Roraima, para acompanhar a situação desses
meninos e meninas ao chegar e se adaptar na vida no Brasil.
Logo ao cruzar a fronteira, os venezuelanos são recebidos em
abrigos provisórios, onde aguardam para seguir para Boa Vista ou outra cidade
brasileira. A travessia e a vida nos abrigos têm um impacto forte nas crianças.
Diego Hernandéz tem apenas 10 anos, mas já entende o porquê
de ter deixado a terra natal dele. "A Venezuela está pobre e muitos
venezuelanos estão passando dificuldade, a metade do país já foi embora porque
a coisa estava feia lá", diz.
Quem participa do acolhimento dessas crianças e adolescentes,
vive o cotidiano de ver a odisseia dessas pessoas. "O estado emocional,
muitas vezes elas chegam sem entender o que está acontecendo e são crianças com
poucas roupas e grande necessidade de coisas básicas, como roupas e
fraldas" explica o tenente-coronel Barcellos, coordenador da Operação
Acolhida em Pacaraima.
Para minimizar o impacto, o Unicef mantém 23 Espaços Amigos
da Criança em Roraima, com atendimento pedagógico e atividades de recreação. A
professora Sorimar Tremária, da ONG Visão Mundial, que atua nesses espaços,
conta que as crianças se surpreendem com o pouco que tem para brincar. "Só
um lápis de cor e um papel já fazem a diferença para eles, que dizem que na
Venezuela eles não tinham isso, porque era muito caro", diz.
Há abrigos específicos para a população indígena, onde a
saúde das crianças é prioridade no atendimento. A produção da TV Brasil
encontrou uma mãe com seu bebê que, ao chegar ao abrigo com 1 ano de idade,
estava tão desnutrido que não andava, não levantava e nem chorava.
A equipe de nutricionistas deu atenção especial à criança,
com alimentação reforçada, vitaminas e acompanhamento. "Hoje, eu vejo o
Nelwin com 2 anos correndo pelo abrigo e é uma felicidade muito grande",
conta Cintia de Lima, uma das nutricionistas que acompanhou o bebê.
Muitas mulheres atravessam a fronteira grávidas para terem
seus bebês no Brasil. Em Boa Vista, a equipe do Caminhos da Reportagem
encontrou mães como Yarinat Rosa, com sua filha Gabriela Natália, que nasceu na
cidade.
A entrevistada conta que o medo de não ter atendimento
adequado e a falta de remédios na Venezuela a fez migrar para o Brasil ainda
grávida com os outros três filhos. "Quando eu vim para cá, no setor que eu
morava morreram 18 parturientes entre 16 e 25 anos e elas deixaram muitas crianças
órfãs", lamenta.
Boa Vista, que tem 400 mil habitantes, é uma das cidades do
Brasil que mais tem sentido o choque da imigração. A prefeitura tem estado
atenta e agido para incluir as famílias nas políticas públicas do município.
"Estudando outros países com suas histórias de migração, nós temos
conhecimento que isso é para sempre", avalia a prefeita Teresa Surita. Nas
escolas municipais, 12% das matrículas já são de crianças venezuelanas.
Meninos como Oseas, de 7 anos, que tem paralisia cerebral,
são desiludidos no país de origem. Os pais foram avisados na Venezuela que ele
nunca iria andar. O programa da TV Brasil mostra o projeto "De Mãos
Dadas", iniciativa da Escola Municipal Waldinete de Carvalho Chaves que
visa integrar as crianças venezuelanas com as brasileiras e vai além da
inclusão cultural.
Os professores se empenharam na estimulação do garoto e hoje
ele já anda e tem uma vida mais independente. "No nosso país não se
observa, nem se dá esse tipo de educação que tem aqui o Brasil", compara
Temistocle Gonzáles, pai de Oseas.