Neste domingo (22/11), às 20 horas, na TV Brasil, “Caminhos
da Reportagem” exibe o especial inédito “Carolina de Jesus, a escritora além do
quarto”. O programa revê a vida e a obra da romancista, contista, cronista e
dramaturga que, apesar da extensa produção, costuma ser lembrada no Brasil por
“Quarto de despejo: Diário de uma favelada”, publicado há 60 anos.
“É muito emocionante ver uma pessoa que não tem nada e também
não contenta com esse nada. E tudo que é oferecido também não basta”, é assim
que a escritora Conceição Evaristo define a resiliência de Carolina Maria de
Jesus. Para o Caminhos da Reportagem, Conceição também conta como Carolina
serve de inspiração para si própria e sua família no sentido de “não aceitar a
pequenez da vida”.
Carolina nasceu em Sacramento (MG) e ainda jovem migrou para
São Paulo. Morou na favela do Canindé e, catando papel nas ruas, criou sozinha
três filhos.
Seu maior sucesso, “Quarto de despejo: Diário de uma
favelada” foi traduzido para mais de uma dúzia de idiomas, deu fama e
reconhecimento à autora cujo maior sonho era escrever, segundo a própria
Carolina. Junto com o sucesso, veio o estigma de escritora ex-favelada, que só
falava de pobreza e fome. É esta a imagem que pesquisadores e novos escritores
negros têm tentado mudar.
“É sempre uma imagem marcada pela subalternidade. Carolina
era vaidosa, gostava de se arrumar, usar pérolas. E quando tinha agenciamento
sobre si, ela escolhia sempre pela vaidade”, conta a historiadora Raquel
Barreto, curadora da exposição promovida pelo Instituto Moreira Salles com o
objetivo de desconstruir o estereótipo da Carolina favelada, sempre com o lenço
na cabeça. “Hoje, a gente tem felicidade em ver que estamos procurando outras
imagens de Carolina”, afirma.
O programa revela trechos de obras inéditas, que serão
publicadas em edição especial pela editora Companhia das Letras. Doutora em
letras, Fernanda Miranda explica a necessidade de um conselho curador composto
só por mulheres negras para resgatar a essência de Carolina. Livros, peças de
teatro, provérbios e diários inéditos serão publicados sem cortes.
"Essa publicação estabelece um divisor de águas na obra
de Carolina, porque não vamos interferir no texto dela. ‘Quarto de Despejo’ e
‘Casa de Alvenaria’ vão ser lidos pela primeira vez em sua totalidade",
conta Fernanda.